Um passeio pela história automotiva brasileira

Para a maioria da população brasileira atual, o carro sempre foi uma presença constante e marcante na vida e na história pessoal de cada um. Todos temos uma lembrança relacionada a um carro da família quando éramos crianças, ou um modelo passado de avô para pai, e de pai para filho. Porém, o automóvel não esteve sempre presente na vida e no contexto da família brasileira. Ela começou devagar, em marcha lenta, mas não para de acelerar até hoje.

A invenção alemã, fabricada em 1885 por Karl Benz (fundador da marca Benz & Co., que mais tarde seria fundida a outras empresas na formação da atual Mercedes-Benz) e produzida em série pela primeira vez por Henry Ford com revolucionário modelo T, só chegou ao Brasil em 1893.

O modelo Peugeot Type 3 foi o primeiro carro a rodar no Brasil, tendo sido importado pela família do inventor do avião, Santos Dummont. Mais tarde, outro modelo chega a São Paulo trazido pela família do fundador da Polícia Militar Paulista, Tobias de Aguiar, e no Rio de Janeiro, encomendado pelo jornalista José do Patrocínio.

Peugeot 1903

Peugeot 1903. Disponível em: ourunveilsecrets.wordpress.com

Entretanto, a primeira fábrica a se instalar em território nacional viria apenas em 1919, ano em que a Ford Motors Company iniciou, em São Paulo, sua produção de modelos T a serem vendidos no país, seguidos seis anos mais tarde pela rival General Motors, que na época montava apenas unidades do ônibus conhecido como “cabeça de cavalo”.

Todavia, apesar do surgimento de montadoras no Brasil, ter um carro próprio era algo ao alcance de muito poucos, fato que desde aquela época já garantia ao detentor do carro o status de poder e imagem de destaque na sociedade. Andar de carro era sinônimo de ostentação e orgulho, e muitos utilizavam seus veículos como uma forma de desfilar pelas ruas da cidade.

Este contexto automobilístico no Brasil perdurou por mais duas décadas, até que então, o presidente da época, Getúlio Vargas, através da CDI – Comissão do Desenvolvimento Industrial – instalou no dia 31 de março de 1952 a Subcomissão de Jipes, Tratores, Caminhões e Automóveis, e criou leis que passaram a fomentar a indústria e o comércio internacional de peças de automóveis no país.

Então, no ano de 1956, temos o acontecimento considerado marco histórico da indústria automobilística no Brasil: a criação da GEIA – Grupo Executivo da Indústria Automobilística – pelo presidente Juscelino Kubistchek.

Juscelino Kubitschek olhando a Perua DKW

Juscelino Kubitschek olhando a Perua DKW. Disponível em: flaviogomes.grandepremio.uol.com.br

O grupo teve 30 dias para apresentar para o presidente um plano de trabalho referente ao setor automobilístico da indústria do país, e então, no mesmo ano, o plano já estava sendo posto em prática. Entretanto, só foram computados dados de comerciais a partir do ano de 1957, no qual efetivamente o Brasil passou a fabricar e montar carros no seu território.

Mais de 20 projetos foram apresentados à GEIA, porém, só 17 foram aprovados, e 12 concretizados, sendo eles: Fábrica Nacional de Motores; Ford Motor do Brasil S/A; General Motors do Brasil S/A; International Harvester S/A; Mercedes Benz do Brasil S/A; Scania Vabis do Brasil; Simca do Brasil; Toyota do Brasil S/A; Vemag S/A; Volkswagen do Brasil S/A; Willys Overland do Brasil e Karmann Ghia do Brasil.

Assim se tem início a fabricação e montagem de carros no país.

Os primeiros modelos fabricados inteiramente em território brasileiro são a perua DKW, da Vemag e o carro-bolha Romi-Isetta, fabricado pela Romi Tornos. Este último não durou muito tempo, enquanto que a perua persistiu por mais tempo no cenário.

Após ter sido dada a largada, a indústria automotiva foi pouco a pouco conquistando espaço e fazendo com que o carro se tornasse algo não só cultural, mas também familiar no Brasil.

Alguns modelos icônicos para qualquer brasileiro foram lançados ainda nos anos 50. Em 1959, a Volkswagen do Brasil passa a fabricar seu modelo besouro, o tão amado Fusca, com motor 1200 refrigerado a ar. O carro já estava presente no país desde o começo dos anos 50, porém, assim como a Kombi, era apenas montado no país com peças importadas.

Fusca 1959

Fábrica do fusca no Brasil em 1959. Disponível em: www.carroantigo.com

A Simca do Brasil lança o Simca Chambord, carro que, apesar de ser muito luxuoso e ter sido uma grande ferramenta do marketing da Simca (pois apareceu no primeiro seriado da TV brasileira, o Vigilante Rodoviário) não correspondia às expectativas, pois sua embreagem e parte elétrica estavam sempre dando problemas.

Após mais alguns anos de lançamentos, como o jipe Aero Willys, o Alfa Romeu 2000 (batizado de “JK” em homenagem ao presidente), o Gordini (antigo Renault Dauphine), Karmann-Ghia, e outras atualizações nos modelos mais antigos, surge um carro em 1967 que dá uma revirada em todo o cenário: o Ford Galaxie.

Ford Galaxie

Ford Galaxie. Disponível em: www.cardomain.com

Considerado o primeiro “carrão” nacional, os brasileiros enfim podem ter um carro de 1º mundo fabricado no Brasil. O Galaxie veio para mostrar que o cenário automotivo estava evoluindo, e que o público se tornava cada vez mais exigente com os níveis padrão de conforto, luxo e estilo dos carros, sem dispensar o desempenho do motor embaixo do capô.

Com isso, a Ford conquista o mercado e compra a Willys do Brasil, lançando assim o Corcel, carro de extremo sucesso para época e com clara aceitação. Seguido deste fato, temos o lançamento do Opala da GM, com um desempenho assombroso para a marca, que até então fabricava apenas caminhões.

Com todos esses lançamentos, as outras empresas como a antiga Vemag, a Simca, e outras empresas menores, como a Gurgel (única empresa de carros no Brasil 100% nacional, onde todo o carro havia sido desenvolvido e fabricado dentro do país), foram sendo passadas para trás e passaram a ser engolidas por Volkswagen e Ford, já modelando desde a época o cenário que vemos hoje no Brasil, de 4 grandes conglomerados automotivos dominantes no mercado.

Dos 4 grandes conglomerados (GM, Ford, VW e Fiat), o último a ser inserido no país foi a Fiat. A empresa ingressou no Brasil em 1976, numa época de crise do petróleo, prometendo o mesmo desempenho das outras marcas, porém com um consumo que espantava a todos, e fez com que todas as outras empresas da época corressem atrás e se atualizassem para alcançar a empresa italiana e seu modelo 147, o primeiro carro movido a álcool a ser produzido em série no país.

Fiat 147

Fiat 147. Disponível em: bestsellingcars.wordpress.com

 


Após este enorme passeio pela história automotiva de nossa nação, fica claro como o brasileiro tem motivos para ser tão exigente e apaixonado por automóveis. É possível notar como em tão pouco tempo, o carro conseguiu conquistar a todos e adquirir gigantesco valor social, histórico e cultural. E fica mais evidente ainda que essa máquina fantástica e poderosa sempre estará presente enquanto houver um de nós para domá-la.

Disponível em: bestsellingcars.wordpress.com

 

Referência foto de capa: “Chambord Rally 1964”. Disponível em: http://www.carroantigo.com/portugues/conteudo/curio_nacionais_simca.htm

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